Depois de passar a noite de tercç, a quarta inteira e a manhã de quinta em Varsóvia, pegamos um trem e fomos à Cracóvia. Três horas de viagem num trem meio lento, mas confortável, com comidinha e pelo modesto preço de uns 20 euros (já esqueci o preço em zlotys).
Chegamos lá aí por 16 horas (já que o trem atrasou meia hora em Varsóvia) e fomos direto para o hostel. Perdermos a estação em que tínhamos que descer do tram, mas chegamos, enfim, sãs e salvas. O hostel era bem legalzinho, pequeninho, mas bem organizado e com um staff muito gentil e prestativo. Ficamos hoooooras perguntando mil dúvidas, pedindo indicações de lugares e tudo o mais, e as meninas da recepção conseguiram basicamente tudo para nós.
O quarto era só para nós desta vez, o que foi ótimo, o banheiro era grande e o café da manhã (que foi servido numa mesa especialmente para nós) era de graça. E era perto de tudo: do complexo Wawel (sobre o qual falarei mais depois), do antigo bairro judeu da cidade (Kazimierz) e do centrinho histórico. O melhor: a diária custou mais ou menos seis euros. Eu amo a Polônia.
Na quarta de noite, fomos conhecer o centrinho de Cracóvia. Foi rapidão, o que foi um pena, porque a praçaa central da cidade é fantástica. Para os desinformados (onde me incluo, porque só fiquei sabendo de todas as coisas que vou escrever agora quando fui à Cracóvia), a cidade foi capital da Polônia por um tempão, se não me engano até o século 16. Além disso, a cidade é um grande centro de cultura, arte e tudo o mais. Uma cidade absolutamente incrível. Pena que não consegui aproveitá-la tão bem quanto gostaria, porque meu tempo lá foi curto demais.
Conhecemos a praça principal da cidade, que é fantástica. Quando chegamos lá, já era noite, então foi emocionante, tudo iluminado, realmente lindo. Visitamos uma igreja que fica na praça que é absolutamente maravilhosa. Se não me engano, é algo espécie de basílica de Maria. Quando entramos lá, estava tendo uma missa, então não pude tirar nenhuma foto de dentro do lugar. Mas era lindo. Segue uma foto da praça para vocês terem uma ideia de como é lá:
Tem uma história interessante sobre a praça principal de Cracóvia. Parece que (não tive a oportunidade ver) a cada hora há um cara que anuncia o horário do dia tocando uma trombeta nos quatro cantos de alguma construção da praça (que pode ser tanto a catedral quanto um negócio que eles chamam Cloth Hall, que é tipo um mercadinho de souvenirs e artesanato que fica bem no meio da praça). Parece que esta é uma tradição de Cracóvia e que, há muito tempo atrás, esse carinha tinha a função de verificar se a cidade estava segura de invasores. Conta a história que, lá pelo século 10, o tal cara que tocava a trombeta foi morto por um dardo exatamente na hora em que avisava a cidade que um ataque iria acontecer. E daí Cracóvia foi invadida. Só não sei por qual povo - nada como pegar as histórias pela metade, né!
Enfim, o centrinho de Cracóvia é absolutamente lindo, todo cercado por uma muralha. A cidade é muito antiga, século 7 se não estou enganada. Demais por andar por lá.
Na sexta-feira de manha fomos a Auschwitz, o famoso campo de concentração da Segunda Guerra mundial, num passeio organizado por uma agência parceira de nosso hostel. Uma van veio nos buscar e fomos passando por vários hotéis da cidade para pegar turistas que também estavam indo para lá. Demora mais ou menos uma hora e meia para chegar.
Chegando lá, uma multidaaaaao. Estudantes, turistas, enfim, muita gente. Fizemos uma visita guiada que foi muito boa, se não tivéssemos feito, não teríamos entendido nada decentemente. Ao chegar lá, eles te dão um fone de ouvido e tudo o que o guia vai falando tu podes ouvir pelo fone. Nada de pescoços esticados como nos museus brasileiros. Mas tudo bem, é compreensível, Auschwitz é o museu mais visitado da Polônia, então eles precisam mesmo estar preparados para receber bem os visitantes.
Mas enfim... Falando sobre o museu em si, não sei qual outro adjetivo utilizar além de impressionante. Em primeiro lugar, tu entras pelo portão de entrada do campo, onde está escrito, em tom de pura ironia, "o trabalho liberta" (do alemão, "arbeit macht frei"). Chega a dar nojo ler aquilo. Tu passas por salas em há fotos das pessoas chegando nos campos, vindas de um monte de lugares, Hungria, Checoslováquia, entre outros muitos países. Depois, tu vais para uma salas em que há um monte de antigos pertences das pessoas que foram mortas. Tem uma sala em que há duas toneladas de cabelo humano que foi retirado das vítimas. Na mesma sala, dá para ver o tecido que era feito com tal cabelo. Em outras salas, pilhas de penicos, panelas e utensílios pertencentes às vítimas, pentes, escovas, malas (muitas delas com os nomes das pessoas)... Por fim, muuuuitos sapatos, sendo que há uma sessão só para sapatos de crianças. Também tem uma sessão só com roupinhas de crianças. Não aguentei ficar muito tempo lá.
Depois disso, tu vais para uma salas em que eles mostram as fotos que as pessoas que chegavam no campo tiravam. É horrível o olhar de todas elas. Dá para ver no rosto delas que elas já tinham uma ideia do que ia lhes acontecer. E, juntamente das fotos, tem a data de chegada no campo e a data da morte da pessoa. Muitas morreram no mesmo dia em que chegaram. Outra morreram uns meses depois. Há fotos também de crianças que foram utilizadas para experimentos científicos pelos nazistas - eles faziam experiência com gêmeos, crianças com deformações físicas e problemas mentais, etc. Não dá para aguentar ver aquilo. E é incrível ver o olhar das pessoas que fazem a visita contigo, é todo mundo com aqueles olhares meio incrédulos e apavorados ao mesmo tempo... Simplesmente horrível!
Mas o que eu achei pior, pelo menos em Auschwitz I, foi a parte das salas de tortura. Fiquei impressionada com uma sala em que as pessoas ficavam trancadas num espaço mínimo (acho que era menos de 1x1), totalmente escuro e sem janelas. Segundo o guia, às vezes quatro pessoas ficavam trancadas ali. Fiquei chocada. Entre os prédios, tu visitas os lugares onde as pessoas eram fuziladas e os postes onde eram torturadas. Um horror.
Não sei bem quantas câmaras de gás existiram em Auschwitz, mas sei que só restou uma. Os nazistas destruíram tudo quando se deram conta de que a guerra estava acabando e os russos estavam chegando. Só sobrou uma. Fomos visitar. Dentro da câmara, dá para ver o forno onde os corpos das pessoas eram incinerados. Os fornos foram todos destruídos pelos nazistas, mas um deles foi reconstruído, para que as pessoas pudessem ver como era. Horrível.
Depois disso, fomos a Auschwitz II (também chamado Birkenau). Foi ali que a maior parte da matança aconteceu. Ainda hoje dá para ver o portão por onde entra uma estrada de ferro. O trem parava ali dentro e, ao sair do trem, as pessoas eram dispostas em uma fila (isso se as pessoas tivessem conseguido sobreviver à viagem de trem, né!). Na fila, era feita uma seleção. Alguns iam para a câmara de gás assim que chegavam. Outros iam para o trabalho, mas poucos sobreviviam. Birkenau foi quase que totalmente destruído, pelo alemães, pelos nazistas e também por algumas pessoas presas no campo, em um momento de resistência que ocorreu um pouco antes dos russos libertarem Auschwitz. Algumas das casinhas onde as pessoas viviam foram reconstruídas, para mostrar para as pessoas como era. Os dormitórios eram feitos de madeira, mas havia buracos entre o chão e as paredes, e também entre o teto e as paredes, de forma que a temperatura chegava a dez graus negativos lá dentro, durante o inverno. Trezentas pessoas dormiam em cada pavilhão.
Outra coisa que me impressionou foram as fotos das pessoas com o número do campo marcado na pele. Os nazistas, depois de um tempo, pararam de marcar as pessoas com números. E também pararam de tirar fotos no momento em que as pessoas chegavam. É que chegou um momento na guerra em que tanta gente estava chegando ao campo que eles não conseguiram mais controlar o fluxo de pessoas.
Enfim, conclusões de tudo isso: não sei como existem pessoas que têm a petulância de negar o holocausto. A visita a Auschwitz é uma evidência de tudo o que aconteceu. E não consigo entender como todos esses crimes puderam ser perdoados. Na verdade, não entendo bem como tudo aquilo pode ter sido feito. É um absurdo ver o nível de crueldade e de falta de senso de humanidade ao qual as pessoas podem chegar. Mas acredito que a visita a Auschwitz é algo que todos devem fazer, se um dia tiverem a oportunidade, para, pelo menos, possam ter uma consciência maior do que aconteceu. No Brasil, as pessoas não têm muita noção do que foi a Segunda Guerra, principalmente pelo fato de o Brasil não ter sido tão diretamente atingido por ela. Mas aqui na Europa o negócio é diferente. A guerra é mencionada toda hora. Então acho que a visita a Auschwitz é válida neste sentido. Não é a coisa mais bonita que alguém vai ver neste mundo, mas te dá uma compreensão maior das coisas. E te faz questionar também. Como um ser humano pode fazer coisas tao horríveis aos seus semelhantes?
A questão permanece...
Amanhã continuo!
Abraços!